sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

BELÉM: NOVO ESPAÇO CONTEMPORANEO COMUNICACIONAL


UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADAS – CESA


Rodolfo Costa Farias











BELÉM: NOVO ESPAÇO CONTEMPORANEO COMUNICACIONAL
















Ananindeua
2011

Rodolfo Costa Farias















BELÉM: NOVO ESPAÇO CONTEMPORANEO COMUNICACIONAL








Trabalho apresentado ao curso de Graduação em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Universidade da Amazônia ao professor Mauro, Comunicação, Cultura e Cidadania. Turma 4PPN1.




Ananindeua
2011

Belém foi fundada em 1616, meados do século XVII pelo então capitão português Francisco Caldeira Castelo Branco com a intenção de resguardar o território norte da invasão estrangeira, como a dos franceses. Com apenas um forte batizado de Forte do Presépio, casas de pau a pique em seu inicio Belém se constituía como uma pequena cidadela, mais tarde com a construção da igreja de Santo Alexandre, a pequena vila de portugueses e índios gentis começa a ganhar características de uma cidade. E a partir deste ponto, que naquela época se localizava o centro da cidade, não o centro propriamente dito e interpretado em sua plenitude linguística, mas sim o centro como ponto referencial demográfico, no qual a população se concentrava e tratava de desenvolver sua cultura e comunicação.
No início Belém se organizava em meio a suas edificações, o forte e a igreja, por exemplo, como é possível ver em uma das gravuras contidas no livro “Crônicas de duas cidades Belém e Manaus” dos escritores paraense Bendito Nunes e Milton Htoyum, 13, o qual exemplifica como a cidade era distribuída, a cultura desenvolvida por meio dos negócios feitos, das missas realizadas e das relações sociais, assim constituindo o aspecto comunicacional do espaço naquela época.

Gravura retirada do livro “Crônicas de duas cidades Belém e Manaus”, Benedito Nunes. 13, 2006
Importante perceber como construção podem nortear os caminhos sociais de uma população, digo isso porque era nesse lugar que se concentrava o maior numero de pessoas, devido à feira ao ar livre, por exemplo, no qual os mercadores anunciavam de forma simples e direta os seus produtos, gritando ao vento, exibindo suas mercadorias, chamando seus clientes até mesmo pelo nome. A comunicação usada por eles era simples, algo passado para por seus antepassados, e que até nos dias atuais essa pratica sobrevive e ainda é usada por feirantes no mercado do Ver-o-Peso ou no comércio local. O foco neste texto é justamente pensar como a cidade se organiza em torno de edificações, e assim construindo sua identidade cultural e comunicacional. Sendo assim, irei analisar como a identidade de Belém é constituída atualmente.

“A cidade nos desafia. Pensá-la, hoje, é assumir uma experiência de desordem e opacidade que resiste à olhada monoteísta, omnicompreensiva e nos exige um pensamento nômade e plural, capaz de burlar as divisões das disciplinas e integrar dimensões e perspectivas até agora obstinadamente separadas. Por isso torna-se indispensável tratar da possibilidade de uma olhada de conjunto de cidade, de sua cumplicidade nostálgica com a ideia de uma unidade ou identidade perdida (...)” (JESUS MARTÍN-BARBERO, 1998: 53).

Saímos da Belém colonial e pós colonial, demos um salto na história para conhecer a Belém do século XXI, vertical, que se ergue aos céus como quisesse ultrapassar as copas de suas mangueiras e mostrar ao mundo o quanto pode ser bela. Uma cidade moderna, contemporânea, cheia de símbolos, imagens, um caldo rico e diverso culturalmente. Uma Belém com uma personalidade moldada ao longo de sua própria história, que cultua o tradicional e o usa como meio comunicacional para atrair o publico.

“A massa, marginal durante muito tempo invadia o centro da cidade e o reossiginificava, impondo a ruptura ostensiva das formas de “urbanidade” (...). E ao mesmo tempo a cidade se transformava com o aparecimento do “folclore aluvião”, a moderna cultura urbana, (...), feita de mestiçagem e impurezas, de pateticismo popular e arrivismo burguês”. (JOSÉ LUIZ ROMERO, 1998: 54).

A cidade durante sua evolução teve seu espaço reorganizado e repensado, o que hoje é uma cidade velha, ponto turístico que em autrora já foi o seu centro. Agora podemos definir o novo centro em uma área delimitada não por uma igreja ou um forte, mas sim por uma edificação, uma vitrine tipicamente capitalista, símbolo do crescimento, do comércio moderno, do movimento e da riqueza de uma cidade, um shopping. Especificamente, o shopping Boulevard. Pensado a partir não apenas de certa noção burguêsa, mas também feito para atender uma massa que salienta o desejo de um espaço diferenciado do seu, para poder se distanciar da sua própria realidade.

Imagem ilustrativa. http://www.boulevardbelem.com.br

Pensar como um shopping define o movimento, a organização de uma cidade pode ser até atrevimento, mas para a sociedade moderna essa construção significa muito mais que um simples prédio, no qual se chega para comprar. Ela possui atributos conferidos por nós, status, lazer, diversão, ponto de encontro etc. Imaginem a grande massa que sai de suas casas para passar horas dentro de um shopping, olhando vitrines, lojas de departamento, sendo atingidas diretamente e indiretamente por publicidades das mais variadas e possíveis, as quais dizem a você que somente naquele lugar o público pode ser quem ele quiser, buscar algo além de sua realidade, se distanciar e entrar em uma simulação criada pela atmosfera que o ambiente transmite ao indivíduo, se sentir em qualquer lugar do mundo moderno, menos em Belém do Pará, como se viver nessa cidade fosse sinônimo de atraso, como se quiséssemos negar nosso próprio passado, tal como Benedito Nunes nos relata em seu livro “Crônicas de duas cidades” e o historiador Apud Barbosa nos retrata: “A cidade já não possuía um estilo de vida e sim muitos modos de vida sem um estilo” (CIDADE VIRTUAL,1998: 54). É como se fosse necessário fundir os meios em um ambiente só, para que ele possa transmitir a sensação de modernidade e de uma identidade passível de compreender o público.
Mesmo que queiramos nos desprender de nossa realidade, a midiatização conferida nos ambientes modernos sempre nos remetem ao passado tal como o shopping Boulevard que traz em sua arquitetura, sua fachada símbolos da cidade de Belém, o Ver-o-Peso, Basílica de Nazaré, Estação das Docas etc. Tais imagens são usadas como artifícios comunicacionais para retratar quem sabe uma cidade até mesmo já modificada, com um novo sentido cultural diferente do seu passado. Isso até reforça os pontos que regem a organização social, cultural e comunicacional de Belém, mas não os definem mais. Sendo assim o shopping compreendido como o novo patamar da identidade da cidade e também funciona como um catalizador da massa consumidora, da nova comunicação representada pelo moderno e contemporâneo na fachada do próprio shopping, pois com a chegada dele é possível perceber as alterações na dimensão espacial do ambiente, as lojas mudando suas fachadas para melhor se encaixar ao meio, grandes layers são postos para anunciar produtos e serviços, edifícios residências vizinhos modernizam suas entradas, novas pistas são abertas para que o trafego flua melhor em torno do Boulevard. A movimentação é voltada para uma grande construção tão forte que a própria população adota o local como uma extensão da sua casa, uma parte real da sua vida, pois “na cidade disseminada e impossível de ser inteiramente abarcada, só os meios de comunicação possibilitam uma experiência-simulacro da cidade global” (CIDADE VIRTUAL: NOVOS CENÁRIOS DA COMUNICAÇÃO, 19989: 62), construída a partir dos desejos da massa.
O shopping não traz apenas em sua arquitetura moderna e o uso de imagens comuns ao belenense para atrair a massa, mas também o nome do local já foi possuidor de status. Um espaço frequentado somente pela elite da cidade de Belém, um local feito para desfrutar dos tempos áureos da borracha, da Bella Époque. Os Boulevares como eram conhecidos antigamente e em particular o Boulevard Castilho França que remetia à Europa com sua arquitetura art-novou, atribuíam ao espaço glamour, beleza e sofisticação. Assim, o shopping extrai desse passado, modernizando e dando novo sentido ao que antes era apenas uma praça, e hoje se transformando em um grande centro comercial, constituindo uma cidade cosmopolita, moderna, feita e alterada para atender uma demanda social contemporânea que gosta da mistura entre o clássico, rebuscado e antigo com o moderno, elegante, transparente e iluminado que lhe passe a sensação de estatus que mistura o moderno com o clássico, natureza e cidade, quase como uma janela que ao se abrir mostra uma realidade romântica contemporânea da cidade de Belém.
Pensar Belém a partir desse lugar e como a organização comunicacional é feita em volta dele é até aparentemente simplório, pois para a publicidade é fundamental compreender como se organiza o espaço social, cultural e comunicacional de uma cidade. Afinal “na sociedade do grande irmão, a tecnologia que trabalha na construção de sentido, induzindo uma forma de organização social” (O PROCESSO DE MIDIATIZAÇÃO DA SOCIEDADE, 22), é a que define o rumo da sociedade e a publicidade vai aonde o seu público está. Ela foca nos lugares que a massa gosta de ir, porque ela sabe o quanto aquele espaço significa para o indivíduo, seja apenas como um lugar para passear e namorar, ou um lugar que lhe passe a sensação de estar em outro mundo, como foi dito antes. Desta forma, é elaborado em torno deste espaço um ambiente favorável para o consumo e venda de produtos para a massa, pois tudo que está situado dentro e em torno atribui ao indivíduo um nível social acima do qual ele está. Ir ao shopping Boulevard não é ir a qualquer lugar, mas sim é ir a um espaço moldado para satisfazer o gosto sofisticado de uma sociedade exigente, as lojas transformam seus parâmetros de atendimento, sua arquitetura, e lojas que são consideradas populares são deixadas à margem, por não se adequarem ao novo contexto contemporâneo. Porém, isso não quer dizer o mesmo para o seu publico, que vai desde as classes A à C, e isso é evidenciado na nova proposta do shopping que irá se ampliar, fornecendo mais 50 lojas.




A publicidade belenense, pensando nisso, passa a focar suas propagandas, peças, implementando outdoors em torno deste ambiente e usando a sua fachada, o seu interior, como palco dos seus comercias, interagindo com o shopping, e criando uma nova relação social em volta dele e nele. Assim reforçando a ideia de elevação cultural e distanciamento da realidade no público que se programa, modifica a própria imagem para se adequar à imagem representativa do shopping construída pela mídia, ou seja, a comunicação muda o publico por meio de um espaço especifico, o shopping Boulevard, que por sua vez muda a imagem da cidade de Belém. Assim constituindo uma nova identidade visual, perceptível da cidade pela cidade e da população na cidade de Belém.

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